ra passei por lá; é perto. Monte-se ámanhã na minha cacunda, e, onde avistar um pé de arvore muito grande e copudo na frente de um palacio muito rico, agarre-se nos galhos, deixe-me passar que é ahi.» No dia seguinte, quando o Vento Grande partiu, a moça montou-lhe na cacunda e seguiram.
Depois de muito voar por muitas terras e reinos, avistou o pé de arvore na frente d'um grande palacio; o Vento logo de longe foi dizendo: «É alli; agarre-se nos galhos, sinão eu a levo para o fim do mundo.» Assim a moça fez; agarrou-se n'um galho da arvore, e o Vento seguiu. Ella desceu e pôz-se em baixo da arvore, maginando um meio de entrar no palacio para vêr o principe, ou ter noticias d'elle. — Com pouco chegaram tres rolinhas e se puzeram a conversar nos galhos da arvore. Disse uma d'ellas: «Manas, não sabem? O principe real do Limo Verde está muito mal; talvez não escape.» Disse outra: «E o que será bom para elle?» Respondeu a terceira: «Alli não ha mais remedio; as feridas que elle recebeu na guerra não tres e não saram; só se pegarem á nós tres, nos tirarem os coraçõezinhos, torrarem e moerem, e deitarem o pó nas feridas.» A moça ouviu toda a conversa das rolas; armou um laço e pegou todas tres; matou-as, tirou os corações, torrou-os e fez um posinho e guardou. — Lá no reino tinha-se espalhado a noticia de que o principe estava á morte de umas feridas recebidas n'umas guerras. Não achando um meio de entrar no palacio, a peregrina tirou para fóra a almofada de ouro, e se pôz a fazer renda. Veiu passando uma criada do palacio, viu e foi dizer á rainha, mãi do principe: «Não sabe, rainha minha senhora, alli fóra está uma peregrina com uma almofada de ouro, com birros[1] de ouro, fazendo renda

  1. Não é o chapéo dos cardeaes, nem o byrrho coleoptero, é uma transformação de bilro, o bilro conhecidissimo.