ter livrar de todo o mal a quem lh'a restituir.» Assim fez. Seguindo para a beira do rio, se escondeu até que chegaram as tres princezas irmãs; tiraram todas tres as suas roupas, puzeram-se nuas, viraram-se em tres patas e atiraram-se ao rio. Depois que se fartaram de banhar-se sahiram da agua para se vestirem e tornarem para o palacio. As duas que tinham roupa vestiram-se; a mais moça, como faltasse a sua para fazer o mesmo, ficou desesperada por não poder seguir suas irmãs. Como desconfiasse que lhe tinham escondido a roupa, e não enxergando pessoa alguma, pediu a quem lh'a tivesse tirado que lh'a entregasse; porém o rei se fez surdo e não appareceu. Pediu a princeza pela segunda vez e nada; pediu pela terceira, promettendo a quem lh'a entregasse de livrar do mal que tivesse de lhe acontecer. Então sahiu o rei do esconderijo onde estava e dirigiu-se para a princeza, dizendo: «Aqui está a vossa roupa que eu tinha escondido afim de me livrar, por vossos conselhos, da morte que vosso pai me quer dar.» A moça respondeu: «Tenho por costume cumprir o que prometto, e d'isto não me afasto; meu nome é Cova da Linda Flôr; hoje é o dia que tendes de ir á casa do rei meu pai; chegando lá batei na porta, ella vos será aberta; assubireis até chegardes á porta da sala, a qual achareis tambem fechada; batei, por dentro vos abrirão, ao abrir encostai-vos na parede para vos esconder a dita porta; não vos assusteis com um foguetão que ha de sahir da sala, que é para dar fim á vossa vida; passando o foguetão, entrai na sala e fallai com o rei, meu pae.» Assim fez. Quando o rei julgava que o foguetão tinha dado cabo do outro, foi que este se apresentou em sua frente. Ficou o pai das princezas muito massado por ser aquelle o primeiro que tinha escapado d'aquelle trama.[1] Orde-

  1. O povo faz de trama masculino; é o que se dá com tampa, palavras que os diccionarios dão como genero feminino.