mais abaixo que andava como o pensamento, que elle pegasse n'este e viesse para fugirem ambos. Indo o rei á estrebaria, não encontrou o que lhe disse a moça e pegou no cavallo do meio, que andava como o vento, o que desagradou bastante á princeza. Como já fosse perto do dia, montaram-se ambos no cavallo, e fugiram.

Amanhecendo, o rei achou falta de sua filha e indo ao quarto do outro rei, tambem o não encontrou, indo tambem á estrebaria não encontrou o cavallo que andava como o vento. Mandou apparelhar o cavallo que andava como o pensamento, e seguiu atraz dos fugitivos. Quando os estava para alcançar, a princeza fez virar o cavallo em que fugia n'um estaleiro, a sella n'um tôro de pau, o freio n'uma serra, o rei em cima do estaleiro e ella em baixo, ambos com a serra na mão a serrar. Chegando o rei, perguntou se tinham visto passar um homem com uma moça na garupa. A resposta que teve foi: «Serra, serra, serrador. Eu tambem sei serrar.» Cançado de perguntar e sem ter uma resposta, o rei voltou desapontado. Chegando contou á rainha o que tinha encontrado, ao que ella disse: «És muito innocente; o estaleiro é o cavallo, o tôro a sella, o freio a serra, e os dous eram o rei e a nossa filha.» O rei volta para vêr se os pegava; no caminho já não encontrou mais os serradores. Seguiu, e quando já estava a pegar os fugitivos, estes se viraram n'uma ermida, dentro d'ella um altar, no altar uma imagem, ao pé do altar um ermitão rezando em um rosario. Perguntando-lhe o rei si tinha visto passar um homem com uma moça na garupa, a resposta do frade era: «Padre nosso, Ave Maria.» Cançado o rei de perguntar, voltou de redea, e foi-se embora. Chegando á casa contou á rainha o acontecido, ao que esta respondeu: «És muito tolo; a ermida era o cavallo, o altar a sella, a imagem a princeza, o ermitão o rei, que voltes quanto antes.» O rei partiu, e pelo caminho não encontrou mais ermida, nem ermitão. Depois