26
CONTOS POPULARES DO BRAZIL

um dia o menino levar a comida ao passaro e o soltou. O passaro voou e levou o menino preso pelo bico. Depois de uma grande viagem, largou-o n'um rico palacio. Mandou pôr a mesa para o almoço, a qual appareceu bem preparada, e, tendo elle de sahir logo depois, deu ao pequeno uma chave, dizendo que só abrisse o primeiro dos quartos que havia na frente da sala, e que eram sete. O menino, logo que o padrinho (assim chamava ao passaro) sahiu, foi e abriu o primeiro quarto, e lá encontrou grande porção de cavallos; elle se divertiu a ponto de se esquecer de comer. No dia seguinte o passaro, antes de sahir, deu-lhe a chave do segundo quarto, e elle o abriu e encontrou uma porção de sellins e arreios. Assim o passaro foi-lhe dando as differentes chaves dos quartos até o quinto. O terceiro era cheio de moças brancas, o quarto de mulatinhas, e o quinto de espadas. Passaram-se tempos e o menino ficou moço feito, e pedia tudo ao padrinho, que lhe respondia que, se elle lhe fizesse sempre a vontade, seria dono de tudo o que alli havia. Depois de vistos os cinco quartos, o padrinho deu-lhe a sexta chave; mas lhe dizendo que não abrisse aquelle quarto, do contrario perderia tudo que elle lhe havia promettido. O moço, não se podendo conter, foi infiel, e abrindo o quarto, achou um bello rio de prata, e n'elle metteu o dedo, que ficou prateado. Pensando que o padrinho não viesse a descobrir, enrolou o dedo n'uma tirinha de panno; mas o passaro que adivinhava tudo, quando chegou, viu o dedo atado, e lhe disse: «Já, sei que abriste o quarto!» ao que elle respondeu com medo: «Abri, meu padrinho, mas vosmecê não me castigue.» Disse-lhe o padrinho: «O castigo será amanhã quando de novo me desobedeceres.» Deu-lhe a chave do setimo quarto, e sahiu. O moço não se conteve, e abriu o quarto, onde havia um rio de ouro. Quando o passaro voltou deu-lhe o castigo promettido: tirou-lhe a roupa e mergulhou-o no