Uma vez teve de ir vencer umas guerras e recommendou muito á princeza o seu papagaio, e ao papagaio a sua mulher. Partiu.

A princeza tratava muito bem do papagaio e sempre elle triste. Ella nunca chegava á sacada; mas uma vez chegou por acaso e ia passando um moço que a viu e ficou logo muito apaixonado por ella, e voltou para casa muito triste. Uma velha, que costumava ir pedir esmola ao moço, o achando muito triste, lhe perguntou o que era. Elle respondeu que era por ter visto a mulher do principe, que o tinha deixado doente. A velha disse: «Oh! chente! meu netinho! tudo fôra isso!… Eu vou ter com ella e arranjo um modo d'ella lhe fallar.» Largou-se para palacio e foi convidar a princeza para ser madrinha de um baptisado. A moça se desculpou muito, dizendo que não podia ir, porque o principe não estava em casa. Mas a velha tanto importunou que a princeza prometteu: «Pois sim; vou ámanhã de tarde.»

Quando foi no dia seguinte pela tarde, a velha chegou; a princeza se apromptou, e já ia sahindo. Quando passou por baixo da gaiola do papagaio, elle tirou a cabeça de baixo da aza, deu uma gargalhada e disse: «Onde vai, princeza minha senhora, tão bandarranona? Princeza minha senhora, quer ouvir uma historia de seu papagaio?» — «Pois não, meu papagaio!» Então elle disse: «Oh! criadas, vão buscar a cadeira e os travesseiros para princeza, minha senhora, se assentar e se recostar para ouvir uma historia de seu papagaio.» A velha ficou fumando de raiva, e o papagaio começou:

«Uma vez havia um rei que tinha só uma filha, a quem deu ordem que, quando lhe fosse tomar a benção, fosse sempre muito bem prompta, e com as suas joias. Assim fazia a princeza: todas as manhãs, para tomar a benção ao rei, se preparava como si fosse a uma festa. O pai tinha-lhe dito que, no dia em que ella se apresentasse sem os seus adornos, a mandaria prender n'uma