admirada d'aquillo, porque nem era d'aquella terra, mas sempre appareceu e a velha lhe disse: «Oh! minha netinha, depois que te peguei n'estes meus braços nunca mais te vi! Hoje soube que teu marido andava de viagem e vim passar a noite comtigo para te fazer companhia.» A moça, sem desconfiar nada, aceitou; a velha foi dormir no quarto d'ella. — Fingiu que estava dormindo, e, quando a moça tomou seu banho, botou-lhe os olhos em cima, mirando bem o seu corpo para lhe descobrir algum signal.

A moça tinha um segredo no corpo, que vinha a ser um fio de cabello bem preto, que, sahindo de um signalzinho na coxa, lhe rodeava toda ella e vinha morrer no mesmo signalzinho. No outro dia largou-se a velha, e contou tudo ao ourives da prata: « Olhe, é uma moça assim, assim… tem um signal em tal parte, assim, assim…».

Quando o ourives do ouro chegou, o da prata lhe contou como era a sua mulher e até lhe revelou o segredo do cabello da côxa; ganhou a aposta. Acabada, esta segunda historia, disse o papagaio; «Agora, princeza minha senhora, já é tarde, e deixemos de baptisados de velha.» A alcoviteira sahiu desesperada, desconjurando do papagaio, e mandou-o pôr no lugar mais porco do palacio. No dia seguinte a mesma impertinencia da velha, querendo levar a moça para baptisado. O papagaio, quando a princeza ia sahindo, tornou a dar uma gargalhada, e convidou a sua senhora para ouvir outra historia. A historia era:

«Uma vez havia um rei e uma rainha; estavam um dia n'uma janella do palacio e viram ao longe um bichinho. O rei disse que era um coelho, e a rainha que era uma lebre: e é, não é, pegaram uma aposta que quem ganhasse matava um ao outro. Mandaram depressa vêr por um criado que bicho era, e o criado voltou dizendo que era um coelho. O rei foi quem ganhou a aposta;