da bocca, e foram contar á mãi. Ella ficou com muita inveja, e disse ás filhas que indagassem da Borralheira o que é que se devia fazer para se ficar assim.

Ellas perguntaram e Maria disse: «É muito facil; vocês peçam para irem tambem uma vez lavar o fato de uma vacca no rio; depois de lavado botem a gamella com elle pela correnteza abaixo e vão acompanhando; quando encontrarem um velhinho muito feridento, mettam-lhe o páo, e dêem muito; mais adiante, quando encontrarem uma casa com uns cachorros e gatos muito magros, emporcalhem a casa, desarrumem tudo, dêem nos bichos todos, e escondam-se atraz da porta, e deixem estar que, quando vocês sahirem, hão de vir com chapins e estrellas de ouro.» Assim foi.

As moças contaram á mãe, e ella lhes deu um fato para irem lavar no rio. As moças fizeram tudo como Maria Borralheira lhes tinha ensinado. Deram muito no velhinho, emporcalharam a casa e deram muito nos bichos das velhas, e se esconderam atraz da porta. Quando as donas da casa chegaram e viram aquelle destroço, a mais moça disse: «Manas, faiemos, manas: permitta a Deus que quem tanto mal nos fez lhe appareçam cascos de cavallo nos pés.» A do meio disse: «Permitta Deus que quem tanto mal nos fez lhe nasça um rabo de cavallo na testa.» A terceira disse: «Permitta Deus que quem tanto mal nos fez, quando fallar lhe saia porqueira de cavallo pela bocca.» As duas moças, quando sahiram de detraz da porta já vinham preparadas com seus enfeites. Quando fallaram ainda mais sujaram a casa das velhinhas. Largaram-se para casa, e quando a mãi as viu ficou muito triste. — Passou-se. Quando foi depois, houve tres dias de festa na cidade, e todos de casa iam á igreja, menos a Borralheira que ficava na cinza. Mas, depois de todos sahirem, ella logo no primeiro dia pegou na sua varinha de condão e disse: «Minha varinha de condão, pelo condão que Deus vos deu, dai-me