um vestido da côr do campo com todas as suas flôres.» De repente appareceu o vestido. Maria pediu tambem uma linda carruagem. Apromptou-se e seguiu. Quando entrou na igreja, todos ficaram pasmados, e sem saber quem seria aquella moça tão bonita e tão rica. Ahi uma das filhas da madrasta disse á mãi: «Olhe, minha mãi, parecia Maria.» A mãi botou-lhe o lenço na bocca por causa da sujidade que estava sahindo, mandando que ella se calasse, que as visinhas já estavam percerbendo. Acabada a festa, quando chegaram em casa, Maria já estava lá valha,[1] mettida no borralho. A mãi lhes disse: «Olhem, minhas filhas, aquella porca alli está, não era ella, não; onde ia ella achar uma roupa tão rica?» No outro dia foram todas para a festa e Maria ficou; mas quando todas se ausentaram, ella pegou na varinha de condão e disse: «Minha varinha de condão, pelo condão que Deus vos deu, dai-me um vestido de côr do mar com todos os seus peixes, e uma carruagem ainda mais rica e bella, que a primeira.» Appareceu logo tudo, e ella se apromptou e seguiu. Quando lá chegou, o povo ficou esbabacado por tão linda e rica moça, e o filho do rei ficou morto por ella. Botou-se cerco para a pegar na volta, e nada de a poderem pegar. Quando as outras pessoas chegaram em casa, Maria já lá estava mettida no seu borralho. Ahi uma das moças lhe disse: «Hoje vi uma moça na igreja que se parecia comtigo, Maria!» Ella respondeu : «Eu!… quem sou eu para ir á festa?… Uma pobre cozinheira!» No terceiro dia, a mesma cousa; Maria então pediu um vestido da côr do céo com todas as suas estrellas, e uma carruagem ainda mais rica. Assim foi, e apresentou-se na festa. Na volta o rei tinha mandado pôr um cerco muito apertado para agarral-a; porém ella escapoliu, e na carreira lhe cahiu um chapim do pé, que o principe apa-

  1. Já estava ha muito.