ali por elle, emquanto ia ao seu palacio buscar fatos proprios para apparecer na côrte, porque estava com roupas de captivo e ella de mourisca.
Assim que a princeza ouviu isto, rompeu em um grande chôro:
— Por tudo quanto ha não me deixes aqui, porque hasde-te esquecer de mim.
— Como é que isso póde ser?
— Porque assim que te separares de mim e alguem te abraçar logo me esqueces completamente.
O conde prometteu que se não deixaria abraçar por ninguem, e partiu; mas assim que chegou ao palacio a sua ama de leite conheceu-o, e com a alegria foi para elle e abraçou-o pelas costas. Não foi preciso mais; nunca mais elle se pôde lembrar da princeza. Ella tinha ficado no areial, e foi dar a uma cabana onde vivia uma pobre mulher, que a recolheu e tratou bem; ali foi ter a noticia que o conde estava para casar com uma formosa princeza, e na vespera do casamento a mourinha pediu ao filho da velha que levasse o cavallinho das sete côres a passeiar no adro da egreja em que se haviam de casar.
Assim foi; quando chegou o noivo com o acompanhamento, ficou pasmado de vêr um tão bello cavallinho, e quiz miral-o de mais perto. O moço que o passeiava andava a dizer:
Anda, cavallinho, anda,
Não esqueças o andar,
Como o conde esqueceu
A moura no areial.
O noivo lembrou-se logo da sorte que lhe tinha cahido, desfez o casamento com a princeza e foi buscar a mourinha com quem casou, e viveram muito felizes.
(Algarve — Lagoa.)