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lher ruim, que apresentou a filha ao principe, mas o pé era uma patola e não cabia no sapatinho de setim; perguntou-lhe se não tinha mais alguem em casa. Quando a madrasta ia responder que não, abriu-se a porta da cosinha, e appareceu a enteada com o vestido do primeiro dia das festas e com um pésinho descalço, que serviu no sapatinho de setim. O principe levou-a logo comsigo, e á madrasta deu-lhe tal raiva, que se botou da janella abaixo e morreu arrebentada.

(Algarve.)



20. A MADRASTA

Uma mulher tinha uma filha muito feia e uma enteada bonita como o sol; com inveja tratava-a muito mal, e quando as duas pequenas iam com uma vaquinha para o monte, á filha dava-lhe um cestinho com ovos cosidos, biscoutos e figos, e á enteada dava-lhe côdeas de brôa bolorentas, e não passava dia algum sem lhe dar muita pancada. Estavam uma vez no monte e passou uma velha que era fada, e chegou-se a ellas e disse:

— Se as meninas me dessem um bocadinho da sua merenda? estou a cair com fome.

A pequena que era bonita e enteada da mulher ruim deu-lhe logo da sua codinha de brôa; a pequena feia, que tinha o cestinho cheio de cousas boas, começou a comer e não lhe quiz dar nada. A fada quiz-lhe dar um castigo, e fez com que ella feia ficasse com a formosura da bonita; e que a bonita ficasse em seu Logar, com a cara feia. Mas as duas pequenas não o souberam; veiu a noite e foram para casa. A mulher ruim, que tratava muito mal a enteada que era bonita, veiu-lhes sair ao caminho, porque já era muito tarde, e começou ás pancadas com uma vergasta na propria filha, que estava agora com a cara da bonita cuidando que estava a bater na enteada.