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trar, dizendo que era a mulher do rei que vinha visital-o, porque tinha muitas saudades. O rei conheceu quem eram, e mandou-lhes dar muita pancada e pôl-as fóra; foi então que a rapariga deu pela falta da pedra, e botou a fugir, e a mãe atraz d’ella.

Quando o rei chegou ao seu reino, veiu a rainha ao seu encontro; mas como não tinha a pedra o rei não a conheceu, e disse: — É uma tola como as outras. E escorraçaram-na. Ella tornou para o palacio, e lá só a acceitaram para ajudar na cosinha. De uma vez estava-se a arranjar um grande jantar para o casamento do rei, e ella ao amanhar uma aguia, achou-lhe no papo uma grande pedra preciosa. Guardou-a, e pediu ao dono para ir servir á meza. Assim foi; pôz a pedra ao pescoço, e assim que entrou na sala, o rei conheceu-a e lembrou-se d’ella, e perguntou-lhe como é que aquillo tinha sido. Ella contou-lhe tudo, e o rei sentou-a logo á sua direita, e a outra princeza foi-se embora.

(Porto.)



22. CABELLOS DE OURO

Um homem e a sua mulher tinham dois filhos, mas não tinham que lhes dar a comer; uma noite estando já deitados ouviu o pequeno estarem dizendo:

— É necessario matar um d’estes filhos, porque não podemos com tanta familia.

O pequeno acordou a irmãsinha, contou-lhe tudo e botaram a fugir de casa. Foram andando noite e dia, e já muito longe o rapazinho cansado deitou-se no chão e adormeceu com a cabeça no regaço da irmã. Passaram por ali trez fadas, e vendo a criança, deram-lhe trez dons:

Que fosse a cara mais linda do mundo;

Que quando se penteasse deitasse ouro dos cabellos;