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prou pelos olhos da menina, que tinha guardado. O carcereiro trouxe o par de olhos, e a menina tornou a pôl-os outra vez na cara.

Veiu o dia em que a velha teve de apresentar a filha diante do rei, mas não deitava ouro dos cabellos. O rapaz ia já a morrer, quando mandou pedir ao rei que se lhe déssem um fato de mulher iria buscar sua irmã, que a velha tinha querido matar. Deram-lhe o fato, e trouxe então da torre a menina, que se penteou diante do rei, e todos ficaram pasmados d’aquelle dom e da sua grande formosura. A menina contou tudo ao rei, que lhe perguntou o que queria que se fizesse da velha.

— Quero que da pelle se faça um tambor, e dos ossos uma cadeirinha para eu me assentar.

(Algarve.)



23. A CARPINTEIRASINHA

Tres irmãs viviam do seu trabalho. Estando ellas um dia questionando qual era a mais habilidosa, diz a mais velha:

— Eu tenho habilidade de fazer uma camisa da pelle de casca de ovo para o rei.

— E eu atrevia-me a fazer-lhe umas calças de uma casca de amendoa verde.

Disse a terceira:

— E eu atrevia-me a ter trez filhos do rei sem elle o saber.

Deu-se o caso do rei ter passado por ali na occasião d’ésta conversa, e logo pediu licença para entrar. Disse que tinha ouvido isto assim e assim, e que ordenava que ellas lhe mostrassem as suas habilidades.

A mais nova respondeu-lhe que isso dependia de tempo emquanto á sua parte, e o rei partiu dizendo-lhe que não deixasse perder a occasião. As duas irmãs ficaram