Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/117

Quando de madrugada o rei veiu vêr se a rapariga teria morrido, achou-a lindissima, e ficou pasmado do seu engano. Pediu-lhe muito perdão, e pediu-lhe logo para casar com ella. Casaram e fizeram-se grandes festas. A velha avó, que morava defronte do palacio, soube que a nova rainha era a sua neta; foi ao palacio pedir para lhe dar uma falla. Chegou-se ao pé da neta e perguntou-lhe baixinho:

— Quem é que te fez tão bonita?

A neta respondeu na sua boa verdade:

— Fadaram-me.

Ora como a velha era surda, entendeu que lhe dizia: «Esfolaram-me.» O rei, deu-lhe muito dinheiro assim que ella se despediu, e ella foi logo a casa de um barbeiro para que a esfolasse, porque queria ficar outra vez nova. O barbeiro não queria, ella deu-lhe todo o dinheiro que levava; por fim começou a esfolal-a, e a velha morreu no meio de grandes dôres, pensando que ficava bonita.

(Algarve.)



26. O PEIXINHO ENCANTADO

Era uma pobre mulher, que tinha um unico filho, e esse era parvo, e não queria trabalhar. Coitadinha, não lhe servia senão para comer. Um dia que ia para o matto buscar lenha um rapazinho da visinhança, ella pediu-lhe para que levasse comsigo o tolinho, e lhe ensinasse a fazer um feixinho. Quando chegaram ao monte, o rapaz foi cortar dois molhos de lenha, e o parvo poz-se a brincar ao pé de uma ribeira. Ali esteve sem pensar em nada, a ver os peixinhos na agua; eis senão quando salta um peixinho mesmo ás abas do parvo, que lhe botou logo as unhas. O peixinho assim que se viu nas mãos do parvo, disse-lhe:

— Não me mates, que em paga, quando quizeres al-