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nha dito; lavou o vestido de pennas, e depois entrou na casa onde estava o velho, fingiu que via vir pelo mar uma linda embarcação; o velho chegou-se á janella e a rapariga pegou-lhe pelas pernas e deitou-o ao mar. Depois quebrou todas as gaiolas e os passaros em liberdade tornaram-se principes que estavam encantados, e entre elles estava o seu marido, que era rei e lhes pôz obrigação de a servirem toda a vida.

(Algarve.)



31. A PARABOINHA DE OURO

Era de uma vez tres irmãs, que viviam juntas; a mais nova punha á janella uma bacia com agua e ali vinha espanejar-se um passarinho, que era um principe encantado, que fallava com ella. As irmãs tomaram-lhe grande inveja, e procuraram geito de acabar com as conversas; espreitaram e viram o principe, e metteram na bacia de agua muitas navalhas de barba. Quando ao outro dia veiu o passarinho lavar-se, cortou-se e foi-se embora; a pequena veiu á hora do costume, e o passarinho não apparecia; só quando olhou para a agua e a achou cheia de sangue e com as navalhas de barba, é que comprehendeu a traição das irmãs. Foi por esse mundo além, perguntando se alguem sabia onde estava o principe encantado; até que chegou a casa da Lua. A mãe da Lua disse-lhe:

— Ai menina, que vem aqui fazer? Se o meu filho a acha cá… Olhe que elle tem uma cara muito arrenegada.

A menina sempre lhe contou o que queria, e a velha escondeu-a e disse-lhe que havia de perguntar ao filho, onde é que estava o principe. Por fim entra a Lua, muito arrenegada, dizendo:

— Cheira-me aqui a folego vivo.

A velha lá socegou a Lua, e perguntou o que a menina queria; respondeu a Lua: