das Tradições portuguezas, base organica sobre que fomos creando a Historia da Litteratura portugueza (1871 a 1881). Por estes estudos da tradição popular preparámo-nos para a comprehensão do genio nacional e para a posse de uma disciplina de critica. A mutua relação entre as concepções anonymas e a obra individual existiu vagamente entrevista no nosso espirito, antes de chegarmos á comprehensão do seu alto valor scientifico. Todo o nosso progresso litterario deriva d’esta comprehensão.

A demora da publicação dos Contos tradicionaes do povo portuguez fez-se sentir como uma lacuna na ampla investigação a que pertenciam o Cancioneiro e Romanceiro. (Carta do sr. Sylvio Roméro.) Obedecemos ás condições da nossa livraria, e em parte á difficuldade de organisação dos nossos materiaes accumulados, de Contos, Casos, Historias, Exemplos, Facecias, Lendas, Patranhas, Ditos e Fabulas. Nas canções e romances existe a fórma metrica e assonantada, que coadjuva a memoria do recitador e dispensa do trabalho de redacção ao collector; porém, nos Contos e Casos a área é extensissima, a fórma é na prosa fallada, espontanea, pittoresca, descriptiva e dialogada, cujos effeitos não se podem reproduzir, nem se devem imitar. Para conservar-lhes o caracter de documento humano, como diria Zola, é preciso vêr n’estas narrativas mais do que um texto para estudo de dialectologia popular, e fugir dos rotoques artisticos; esse termo medio só se poderá achar visando a fixar o estado dos themas tradicionaes. Diante de uma tal difficuldade é que fomos adiando de anno para anno a nossa publicação. Lucrámos com a demora, tomando conhecimento da importancia scientifica que adquiriu na Europa a Novellistica popular, cujos problemas têm sido tratados com a maior lucidez por Grimm, Köhler, Afanasieff, Liebrecht, Benfey, Comparetti, Gubernatis, Pittré, Ralston, Gaston Paris, Cosquin, Estanislau Prato e outros. Resultou da demora o ampliarmos a collecção a