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— Ai Maria Subtil! tão dôce na morte e tão amarga na vida. Quem tamanho crime fez merece já morrer.

E ia para se matar, quando Maria Subtil, a verdadeira, sahiu de baixo da cama e se abraçou com elle. No dia seguinte casaram, e foram depois muito felizes.

(Ilha de S. Miguel — Açores.)



34. O COELHO BRANCO

Havia um rei que tinha uma filha já crescida, que gostava muito de se lavar no balcão, e pedia á aia que levasse a bacia e outRos preparos e uma bandeja para pôr os anneis. Vinha um coelhinho branco, furtava-lhe os anneis e fugia; a princeza gostava de vêr aquillo, não dizia nada, ia ao cofre e mettia outros nos dedos. Continuou o coelhinho a furtar, até que a princeza ficou sem nenhum annel. Antes tinha tão grande abundancia, que ella ficou muito triste e melancholica; o rei teve muita pena com isto, e até mandou pôr um edital para virem todas as pessoas antigas para contarem contos e historias para alegrarem a princeza. Vieram muitas pessoas, mas a princeza estava no mesmo; até que vieram duas velhas sem saberem o que haviam de contar. Pelo caminho encontraram um burro sem pés nem mãos, carregado de lenha; as velhas foram em seguimento do burro, viram-o chegar a umas casas, descarregar a lenha, e acarretal-a para dentro. Ellas então subiram e no patim em cima viram umas pucaras a ferver; uma das velhas metteu o dedo e provou, e n’este tempo ouviu uma voz a dizer-lhe:

— Não proves, que não é para ti.

E a velha olhou pelo buraco da chave e viu um coelho, que tirou a pelle, e tornou-se em um principe, e disse:

— Quem me déra vêr a dona dos anneis que tenho aqui.