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As velhas partiram para o palacio, e lá contaram o que tinham visto á princeza. Isto, já se sabe, alegrou logo a princeza, e disse ao rei que queria vêr aquillo. Foram todos, velhas, princeza e rei. Viram o burro fazer o mesmo, e foram á dita casa. A princeza metteu o dedo e provou; n’este ponto ouviu dizer:

— Prova, que é para ti.

Elia foi vigiar (espreitar), e as portas abriram-se, e o coelho disse:

— Quem me déra vêr a dona dos anneis que tenho aqui!

A princeza respondeu:

— A dona sou eu.

O coelho tornou-se principe, porque aquellas palavras lhe quebraram o encantamento, e casaram, foram muito felizes, e as duas velhas ficaram damas de honra do paço.

(Ilha de S. Miguel — Açores.)



35. CLARINHA

Havia n’uma terra uma rainha, com uma filha muito linda chamada Clarinha, a qual estava tratada para casar com um principe logo que chegasse á edade em que havia de receber o reino de sua mãe, que o estava governando. Clarinha costumava ir todos os dias ao jardim; um dia passou uma aguia, e todas as vezes que passava lhe dizia:

— Clarinha, Clarinha! qual queres, passar trabalhos na mocidade ou na velhice?

A princeza foi dizel-o á rainha, e ella lhe respondeu:

— Diga a menina: Antes na mocidade, que se póde com tudo, e na velhice não se póde com nada.

Clarinha foi para o jardim como o seu costume, e a aguia tornou a dizer o mesmo. No ponto que a princeza