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O cavalleiro disse que sim, e que a tinha deixado no quarto de uma menina. Fez mais perguntas eguaes aos outros mancebos, e as trez beatas estavam muito envergonhadas. Chegou por fim a vez da menina da camisa; chamou-a, e ella desatou a rir.

A mãe disse-lhe:

— Sustei-vos, filha, não vos rides.

— Ai, senhora! agora é que eu vejo que o principe era a velha adela que me furtou a camisa.

O principe perguntou-lhe:

— Será esta a camisa?

— É sim senhor.

— Pois bem, aqui tem a sua camisa, e saiba que d’este instante por diante fica minha verdadeira esposa, e a estas meninas dou-lhes a sentença que, como são muito beatas, se faça um convento para as metter para sempre.

(Ilha de S. Miguel — Açores.)



42. A MÃO DO FINADO

Havia um mercador, que tinha trez filhas, e tinha por costume ir buscar fóra da cidade uma renda todos os annos. Aconteceu fallecer a sua mulher, e tendo de ir receber a renda custava-lhe deixar as filhas sósinhas. Disse então o mercador:

— Minhas filhas, eu preciso de ir receber a renda do costume, mas está-me custando ir, para as não deixar sós.

As filhas responderam:

— Vá, meu pae, que não nos hade acontecer nada; nós havemo-nos de fechar por dentro, e não se consente que ninguem entre cá.

O mercador foi-se, fiado na palavra das filhas. Havia fóra da cidade uma quadrilha de ladrões, e o capitão d’elles andava á espera da occasião da partida do mercador.