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Ahi vão elles fugidos; o duque passou um rio que mais ninguem sabia passar, e estiveram por espaço de dois annos em uma brenha de pedra muito seguros. Ali teve a princeza um menino, e como já tivesse trez annos, e como estivesse por baptisar, foi preciso tornar a passar o rio, para irem a uma ermida longe. Passou o duque o menino para a outra margem, e quando vinha para buscar a mãe, prendeu-se n’um passo e desappareceu, ficando a mãe de um lado e o filho do outro.

A princeza ficou chorando muito a sua desgraça, porque não sabia o caminho.

Respondeu-lhe o menino:

— Não tome a mãe molestia, que sou eu quem a vou passar.

— Filho, vaes pelo rio abaixo!

E dobrou ainda mais o choro. Mas o menino passou o rio bem, e guiou a mãe, e lá foi a uma egreja onde pediu para ser baptisado, e quiz o nome de José, Matador dos Bichos. Depois foram andando pela freguezia abaixo, e chegando a uma casa com um postigo meio aberto, elle metteu o braço, abriu a porta como se fosse sua, e entrou com a mãe. Não acharam ninguem; como não achassem que comer, elle foi pedir, e aconteceu ser ao palacio do rei, onde lhe deram muito. A mãe ficou admirada, e temendo que lá o conhecessem, pediu-lhe para não tornar ali mais. Elle das esmolas arranjou com que comprar uma espingarda, e começou a apanhar caça real que ia levar de presente ao palacio. Indo um dia para a caça lá para uns mattos feios, avistou umas fortes casas e essas medonhas. Com o muito animo que tinha entrou e viu sete homens deitados a dormir. Não teve elle mais que fazer senão pegar n’uma machadinha que ali viu, e com ella foi picando os pescoços dos sete homens, cada um por sua vez. Agora, cuidando que estava sósinho, corre todos os quartos, mas chegou a um em que estava o quadrilheiro-mór, que era um gigante, que lhe perguntou: