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passasse. O palacio ficou livre d’aquelle encantamento, e todos ficaram obrigados ao camponio, a quem o rei deu a princeza em casamento em paga de a ter livrado d’aquella cousa ruim.

(Algarve.)



54. AS TRES MAÇÃSINHAS DE OURO

Havia trez irmãos; o mais novo tinha trez maçãsinhas de ouro, e os outros para vêr se lh’as tiravam mataram-n’o e enterram-n’o n’um monte. Depois nasceu na sepultura uma canna. Certo dia passou por lá um pastor, que cortou um pedaço da canna para fazer uma frauta. O pastor começou a tocar, mas a gaita em vez de tocar, dizia:


Toca, toca, oh pastor,
Os meus irmãos me mataram,
Por trez maçãsinhas de ouro,
E ao cabo não as levaram.


O pastor quando ouviu isto, chamou um carvoeiro, e deu-lhe a frauta. O carvoeiro começou tambem a tocar, mas a frauta dizia:


Toca, toca, oh carvoeiro,
Os meus irmãos me mataram…


Assim foi a frauta andando, de individuo para individuo, até que chegou ás mãos do pae e mãe do morto. A frauta dizia ainda:


Toca, toca, oh meu pae…
Toca, toca, oh minha mãe,
Os meus irmãos me mataram
Por trez maçãsinhas de ouro
E ao cabo não nas levaram.