Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/196

a ser: Que não hade vir nem de noite, nem de dia; nem núa, nem vestida; nem a pé, nem a cavallo.

Foi o ministro para casa, muito afflicto, como era de esperar, e contou as suas tristezas á filha. Ella como esperta, disse:

— Deixe estar, meu pae, que eu já sei qual é o pensamento do rei, e d’esta lhe juro que o hei-de salvar.

Preparou-se, o no dia seguinte arranjou as suas cousas, de modo que entrou no palacio ao lusco com fusco; ia com uma camisa fina de cambraia em cima do corpo, e levada ás cavalleiras de um criado velho que tinha. O rei assim que a viu, conheceu que o lusco com fusco não era nem noite nem dia; que vindo em camisa não vinha vestida, mas tambem não estava despida; e que ás costas do criado não estava a cavallo, mas tambem não estava a pé. Louvou muito a esperteza da menina, e disse-lhe que fosse d’ali dar parte ao pae que estava perdoado, e que tornava a entrar na sua confiança, porque quem tinha filhas assim espertas era homem de capacidade.

(Porto.)