— Pois sim, ámanhã vou jantar á vossa casa.
No dia seguinte foi. A mulher do camareiro foi a ultima a sentar-se á mesa, e assim que se sentou, como havia mais de um anno que não comia com o marido, desatou a chorar. O rei perguntou-lhe porque é que ella chorava tanto. Ella respondeu:
Eu era amada do coração,
Hoje não o sou, nem sei porque não.
Respondeu o camareiro:
Quando eu na minha vinha entrei,
Rasto de ladrão achei.
Respondeu o rei:
Eu fui o tal ladrão
Que na tua vinha entrei;
Verdes parras arredei;
Lindos cachos de uvas vi;
Mas juro-te á fe de Rei
Que eu nas uvas nem buli.
O rei explicou como as verdes parras eram os cortinados de damasco, como vira os braços descobertos, e como se fôra embora tendo-lhe caído uma luva com a pressa. O camareiro ficou muito contente, percebeu os perigos da grande curiosidade, e nunca mais fechou a mulher, que na côrte era conhecida por todos como a mais linda, esperta e honrada.
(Algarve.)
Um lavrador e a sua mulher tinham um grande desgosto por lhe morrer o unico filho; quando o lavrador ia caminho da cidade, passando ao pé de uma palmeira que