Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/216

A viuva depois ia para a egreja, e ajoelhava-se em cima da sepultura do marido, e resava, resava; de uma vez puzeram-se á escuta do que ella dizia, e ouviram esta encommendação:

Aqui jazes e hasde jazer;

Padre-Nosso meu, nunca tu hasde ter.

E a agua benta que te eu botar

Heide-t’a mijar.

(Foz do Douro.)



71. FREI JOÃO SEM CUIDADOS

O rei ouvia sempre fallar em Frei João Sem Cuidados como um homem que não se affligia com coisa nenhuma d’este mundo.

— Deixa-te estar, que eu é que te heide metter em trabalhos.

Mandou-o chamar á sua presença, e disse-lhe:

— Vou dar-te uma adivinha, e se dentro em trez dias me não souberes responder, mando-te matar. Quero que me digas:

Quanto pesa a lua?

Quanta agua tem o mar?

O que é que eu penso?

Frei João Sem Cuidados saiu do palacio bastante atrapalhado, pensando na resposta que havia de dar áquellas perguntas. O seu moleiro encontrou-o no caminho, e lá estranhou de vêr Frei João Sem Cuidados, de cabeça baixa e macambuzio.

— Olá, senhor Frei João Sem Cuidados, então o que é isso, que o vejo tão triste?

— É que o rei disse-me que me mandava matar, se dentro em trez dias eu lhe não respondesse a estas perguntas: — Quanto pesa a lua? Quanta agua tem o mar? E o que é que elle pensa?