chegasse ao balcão, e perguntasse se eram ou não as duas. Pergunta a mulher de cá:
— Ambas de duas?
— Sim, dá-lhe ambas de duas.
A mulher não sabia que eram as pás, e entregou-lhe as saccas do dinheiro.
O rapaz agarrou-as e foi-se por outro caminho, e encontrando um veado, matou-o e tirou-lhe as tripas, que metteu por dentro da camisa. Chegando perto de um homem que conhecia o patrão d'elle, começou a dizer:
— Deixa-me retalhar as tripas.
E pôz-se a cortar as que tinha do veado; o patrão quando chegou a casa e soube da ladroeira do criado, correu atraz d'elle, e encontrou no caminho o seu conhecido, a quem perguntou se tinha visto passar por ali o moço.
Elle respondeu:
— Vi, e elle fez uma cousa; tirou as tripas e cortou-as para correr mais depressa.
— Tambem eu vou fazer o mesmo para o apanhar.
E cortando as tripas caiu morto. O moço quando soube isto voltou para traz e foi ter com a patrôa, que estava viuva, e casou com ella.
(Ilha de S. Miguel — Açores.)
Havia um sapateiro que trabalhava noite e dia, mas nunca passava da cêpa torta; um visinho muito rico ouvia-o cantar sempre esta cantiga:
Sou um pobre sapateiro,
Que estou sempre a dar, a dar,
Quem nasceu para ser pobre
Que lhe serve o trabalhar?