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82. OS CORCUNDAS

Havia n'uma terra dois corcundas que se conheciam e eram amigos; de uma vez um d'elles perdeu-se n'uma estrada e foi ter ao meio de uma floresta onde umas bruxas estavam fazendo as suas dansas, e diziam:

— Entre quintas e sextas e sabbados.

O corcunda foi-se aproximando, e viu ali muito de comer, e começou tambem a dizer:

— Entre quintas e sextas e sabbados.

As feiticeiras vieram ter com o corcunda e deram-lhe muito de comer e fizeram-no dançar; como estava para dar meia noite, disseram:

— O que se hade fazer a este homem, quando nos formos embora?

— Dê-se-lhe muito dinheiro.

Outras disseram:

— Tire-se-lhe a corcunda.

Elle apanhou as duas coisas, e foi-se embora; quando chegou á sua terra o outro corcunda perguntou-lhe quem é que o tinha endireitado. O amigo contou-lhe tudo e disse-lhe onde era a floresta; o outro corcunda avistou as mesmas luzes e viu a mesma dansa das bruxas; e assim que ouviu ellas estarem cantando:

— «Entre quintas e sextas e sabbados», começou a dizer as mesmas palavras, e accrescentou:

— E os domingos, se fôr necessario.

As bruxas desesperadas por lhe fallarem no domingo, foram ter com elle, deram-lhe muitos repellões e disseram:

— O que havemos de fazer a este homem?

— Ponha-se a corcunda que o outro aqui deixou.

E assim elle se foi embora com uma giba atraz e outra adiante.

(Porto.)

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