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99. O AVARENTO

Havia n'uma terra um homem muito rico, e nenhuma mulher queria casar com elle porque tinha unhas de fome, e era um cheira vintens. Uma rapariga mais esperta deixou-se conversar por elle, e quando veiu a fallar-lhe casamento, respondeu logo que sim! O velho ficou contente, mas disse:

— Menina! eu quero desenganal-a; olhe que na minha casa não se acende lume, e um vintem chega para todas as despezas da semana. Veja lá o que faz.

A rapariga, que tinha a sua travada, não tornou a traz com a palavra, e casaram. O velho não alargava os cordões á bolsa, dava por conta as castanhas, e o pão seccava-o ao sol para ser mais duro e se comer menos. Mas a rapariga, que era ladina, tratou mas foi de comer ás escondidas; deu com um falso onde o velho tinha bastante dinheiro, comprava gallinhas, depennava-as e guardava as pennas em uma arca, para que o velho o não soubesse. Assim ia andando, e estava gorda e rosebunda. O velho, que se mirrava e tinha a pelle em cima dos ossos, admirava-se do que via, e disse-lhe:

— Sempre te vae muito bem na minha casa. Olha que as sopas de teu pae nunca te engordaram tanto.

A rapariga enjoada com a sovinice do velho, não teve mão em si, e respondeu:

— Você sempre é o pae da miseria! Se eu comesse só o que me dá, já tinha morrido umas poucas de vezes. Olhe, quer saber quem me dá estas côres? Veja esta arca.

E abriu uma grande caixa, que estava cheia até cima de pennas de gallinha:

— Tenho comido aquillo tudo!

O velho assim que tal viu, caiu para a banda com um ataque; levaram-n'o para a cama, e vieram os visi-