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INTRODUCÇÃO

de Filinto tinha sido uma tricana de Aveiro; pelas passagens supracitadas, vê-se que Trancoso era ainda bastante lido pelos nossos avoengos, como o confirmam as edições das Historias proveitosas, de 1710, 1722, 1734 e 1764. O gosto popular foi desviado por novas leituras, mas a predilecção do conto oral conservou-se mesmo nas classes aristocraticas em Portugal; diz Nicoláo Tolentino, alludindo aos Contos de fadas que contava á Marqueza de Alegrete:

Quando eu a teus pés contava,
Mentiroso historiador,
Ora a do Caixão de vidro,
Ora a das Cidras do Amor.

Quando os mesmos tenros annos
A tua filha contar,
Todos os dias virei
Meu officio exercitar.[1]

Em outras passagens dos seus versos allude a esta predilecção familiar:

Contando historias de Fadas
Em horas que o pae não vem,
E c'o as pernas encruzadas
Sentado ao pé do meu bem
Lhe dobo as alvas meadas.
(Ib., p. 262.)

São divertimento inutil,
São as historias de fadas
(Ib., p. 122.)

  1. Obras de Nicoláo Tolentino, p. 93. Ed. Castro Irmão.