de A Cabeça e o rabo da Serpente, [1] quando nunca Tito Livio teve conhecimento d’essa fonte para a transportar para a bocca do Mnenio Aggrippa, nem tão pouco Sam Paulo para a aproveitar nas suas Epistolas. A lenda celtica de Sam Kadoc, que fica extatico á espera que se choque o ovo que um passarinho lhe pôz na mão, apparece na China, no conto de Buddha e os ovos de passaro; [2] a fabula de Lafontaine e os contos facetos do amante que é depilado das cans pela amásia moça e dos cabellos pretos pela velha, apparece na fórma chineza sob o titulo O marido que depena a barba; [3] emfim, até a anedocta corriqueira do sovina que vae fazer a barba a Cacilhas, e que se julgava local, lá se repete no extremo oriente com o titulo O crédor e o devedor. [4] O celebre conto da Matrona de Epheso foi encontrado por Abel Remusat na litteratura chineza. É, portanto, necessario discriminar estas duas camadas antropologicas, o elemento negroide, representado pelos Kuschitas, e o elemento mongoloide, representado pelas tribus da Alta Asia, elemento tartaro da Russia, da Hungria e da Turquia, e a persistencia do elemento iberico em todo o Occidente da Europa no periodo ante-historico; é n’estas duas camadas que se elaboraram todas essas variedades de contos que só uma imaginação fetichista pode criar directamente mythicos, mas com intuito artistico. As tribus nomadas da Alta Asia são ainda hoje ávidas de narrativas; as fabulas, na civilisação hellenica representavam ainda no seu titulo a sua proveniencia, chamavam-se lybicas, ethiopicas ou esopicas, como quer Lassen. Foi entre as raças amarellas que o Buddhismo se propagou com as lendas do Pantchatantra, da mesma fórma que o Christianismo se generalisou nos povos da Europa por meio das lendas kuschito--

  1. Avadanas, t. I, p. 152. Trad. de Stanisláo Julian.
  2. Ibidem, t. II, p. 41.
  3. Ibidem, t. II, p. 138.
  4. Ibidem, t. I, p. 185.