Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/335

segundo era seu costume. E esto avian per grande honrra aaquelle servente que assi era escolheito.

Entom aquelle princepe mandou dizer aaquelle seu escudeyro que nom avya mais que hum olho que elle o escolhia que morresse e fosse queymado com elle, porque elle o servia muy bem e muy fielmente, e que o amava muyto, e poren o queria assy honrrar mais que todollos seus serventes. Quando o escudeyro esto ouvyo dava a entender que se tiinha per muy honrrado desto, dando muytas graças ao principe pela mercee e honrra que lhe fazia. E disse aaquelles que lhe trouxerom o rrecado:

— Como quer que esto seja a my muy grande honrra, pero dizede a meu senhor que elle bem sabe que sempre o servi muy fielmente e ainda agora em este caso quero seer fiel e quero leixar a minha honrra polla sua, e prazme que dê esta honrra a outro que tenha dous olhos. Ca nom compre aa honrra de meu senhor que elle parecesse en o outro segle com servidor que non tevesse mais de um olho.

Quando o senhor ouviu esta resposta louvou-a e recebeu-a por boa, julgando que em esto lhe fazia aquelle escudeyro estremada e singular fieldade. E assy escapou aquelle escudeyro morte cruel per razom do olho que tinha quebrado.

(Fl. 63, v.)




137. UM HOMEM DE TAVERNA

Hum homen rico husava muyto em bever en as tavernas, en tal guisa que gastou o que havia. E depois meteu-se a servir os que beviam en as tavernas por tal que bevesse con elles. E dessy per tempo avorrecerõno e lançarõno dessy. E elle estando desesperado, veeo a elle