Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/348

que seu marido ouviria o soõ da pedra quando caysse na agoa, e cuydaria que ella se lançara en o poço.

E tanto que ella lançou a pedra en o poço, escondeose de traz o poço. E o marido pensando que a molher jazia en o poço, saio fora da casa pera veer o poço. E ella quando vyo a porta aberta meteuse en a casa, e çarrou a porta sobre ssy. E sobyose en a freesta, e elle que a vyo estar, diselhe:

— Oo molher chea de maa arte e enganosa, leixame entrar e eu te perdoarey quanto fezeste.

E ella lhe disse que o nõ faria, mas que diria a seus parentes que elle todallas noctes assy saya a fazer seu pecado con as maas molheres, e assy o fez. E elles doestarõ muyto mal o marido. E per esta guisa tornou o seu maao fecto sobre seu marido. E nom lhe aproveitou nada a guarda que pose en ella.

(Fl. 137.)




147. O REY E OS CORTESÃOS

Huum Rey andava en huum carro dourado, e hiam com elle seus cavalleyros. E encontrou com huuns homeens vestidos de vestiduras velhas e viis, e eram magros e desfeytos. E ellRey quando os viu sayosse logo do carro e lançousse aos pees delles e adorouos, e alçouse e foyos beijar en as faces. E os cavalleyros quando esto virom, nom ouverom esto por bem. E porque nom ousarom reprehender elRey por aquello que fez, diseromno a huum seu Irmaão, como elrrey fezera tal cousa que nom perteencia a ell. E o Irmaão delrrey (reprehendeo) daquello que fezera. Em aquelle Regno, avia tal custume, quando aviam de matar per justiça alguum homem, mandava elrey a huum pregoeyro que tangessem huuma tromba, que era pera aquello ante a porta d'aquelle que aviam de matar. E depois que o Irmaão delRey o rreprehendeo da-