Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/350

senom aas cousas de fora e nom consirades aquellas cousas que som de dentro.

(Fl. 141.)




148. AS VISTIDURAS HONRADAS

Donde aconteceo que huum filosofo chegou ao paaço d'huum princepe en vestidura vil e nunca o leixarom entrar dentro, pero o provou muytas vezes. Entom elle vistyose em outra vestidura fremosa, e logo o leixarom entrar. E quando chegou ante o princepe começou de beijar a sua vestidura meesma que elle trazia e fezelhe reverença.

E o princepe se maravilhou desto. E perguntou porque o fazia. E o filosofo respondeo:

— Eu honrro aquella que me honrrou; porque aquillo que a virtude nom pode fazer, gaanhou a vestedura. E esto he grande vaidade dar a honrra pella vestedura a qual honrra he devida aa virtude.

(Fl. 142, v.)




149. ROSIMUNDA

Huum Rey dos Lombardos que avia nome Alburno era muy forte e muy poderoso em armas. Este Rey ouve batalha com outro rey. E Alburno venceo e matouo, e tomou huuma filha daquelle Rey por molher, que avia nome Rosimunda. E do testo da cabeça de seu padre, que matara, mandou fazer huuma copa e encastonha em prata e bevia per ella. E este Rey Alburno entrou em Italia e tomou todallas cidades della pella mayor parte. E estando elle em huuma cidade que chamom Verona, fez huum grande convite. E mandou alli trazer a copa que mandara fazer da cabeça do rey que matara, padre