Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/351

da sua molher Rosimunda. E beveu per aquella copa e fez a sua molher que bevesse per ella, dizendolhe:

— Beve com teu padre.

E quando ella esto soube, ouve grande odio a elrey seu marido. E elrey avia huum duque que dormia com huuma donzella da rraynha. E huum dia nõ veendo hy elrrey, dormiu com a rraynha, cuydando que era a donzella. E a Raynha fezlhe conhecer, e disselhe:

— Sabe por certo que tu as feyta tal cousa, que ou tu matarás a elrrey Alburno, ou tu morrerás das suas maãos. E eu quero que me tu vingues delle que matou meu padre e fez copa da sua cabeça, e fez a my que bevesse per ella.

E o duque lhe disse o nom fazia, mas cataria outro que o fezesse. E entom ella guisou como se fezesse. E tyrou as armas fora da camara delrrey e legou a espada que elle tinha aa cabeceyra em tal guisa que se nom podese tirar. E depois que elrrey jouve em seu leyto, entrou aquelle que o queria matar. E quando o sentyo elrrey, saltou fóra e quiz tirar a espada e nom pôde. E entom começou elrrey de sse defender muy fortemente com huuma cadeyra que hy estava, mas pouco lhe valeo seu ardimento nem sua fortaleza. Ca o outro andava muy bem armado e pôde mays que elrrey e matouo. E tomou todollos thesouros que achou en no paaço e fugio com a rraynha Rosimunda, pera huuma cidade que ha nome Ravena. E aly se pagou a rraynha de huum mancebo que era perfecto de Ravena. E por casar com ella deu peçonha aaquelle com quem fugira. E elle embevedoua, syntio que era peçonha e fez que a Rosimunda que bevesse o que ficara a força da espada. E assy morrerom ambos. E assy parece que pouco prestou a fortaleza do corpo a elrrey Alburno, nem ao outro que o matou, ca ambos morrerom maa morte.

(Fl. 77.)