diz ao pae e á mãe, que ainda o não tinham conhecido, que preparem para o dia seguinte um esplendido banquete, para o qual dará bastante dinheiro. Á noite pega na sua espingarda e vae para a caça. No quarto deixou o seu sacco, onde tinha bastante ouro. O pae vê estas riquezas e planêa malar o estrangeiro durante a noite. O terrivel crime é commettido. Eis que o dia chega, sôa o meio dia, e como o irmão não apparece, a irmã pergunta novas do estrangeiro: no seu terror, ella revela aos paes quem elle era. Precipitam-se então para o quarto, o pae, a mãe, a irmã, — eil-o prostrado no proprio sangue. Então começa o lamento da irmã.»

Gregorovius accrescenta sobre este dado do vocero corso: «Esta historia é verdadeira …» Eis a versão portugueza:

Na tradição popular do Minho, é um rapaz que regressa do Brazil muito rico; procura a cabaninha de seus paes na serra, e encontra-os muito pobres e já velhos; não se lhes dá a conhecer, e pede pousada para dormir aquella noite, na esperança de se dar a conhecer no dia seguinte. Durante a noite os velhos vão vêr a mala do forasteiro, e para se apoderarem da sua riqueza matam-n’o e enterram-n’o. Passados dias é que souberam da chegada do filho, e confirmada a tremenda apprehensão do seu remorso, a mãe endoudece e o pae vae entregar-se á justiça.

Para nós é este um thema primitivo, proprio de uma sociedade rudimentar que produzia situações brutaes como a que se celebra na Silvaninha, no Rico Franco, no Dom Pedro e outros romances tradicionaes. A sua approximação do vocero corso obriga-nos a remontar a sua origem a uma antiguidade pre-árica; na Corsega ainda existe na fórma de verso, mas adaptada a situação ao periodo das guerras continentaes de Napoleão do principio d’este seculo; em Portugal ha ainda vestigios de fórma poetica no romance da Pastorinha e Linda Pastora,