Nas civilisações que chegaram ao periodo das religiões polytheistas, é que os mythos tendendo a uma unificação espontanea, recebem quasi que exclusivamente uma representação antropomorphica. Comte notou o modo d’essa unificação, como na arvore que synthetisa a floresta, e no homem que é a manifestação da vontade. As raças Semitica e Arica distinguem-se das raças e civilisações anteriores pela sua elevação ao polytheismo, conservando em si os elementos recebidos do contacto com os kuschitas e mongoloides. Ha entre estas duas raças superiores differenças provenientes não só dos seus cruzamentos ethnicos, como já notámos, mas do seu meio ou habitat; o polytheismo dos semitas é antropopathico, ao passo que o dos árias é antropomorphico. Na investigação dos mythos primitivos que subsistem ainda nos Contos populares, importa distinguir esta dupla proveniencia, sem o que infallivelmente se vae cair em um systema artificial de allegorias. No seu estudo sobre as origens do Petit Poucet, Gaston Paris parte d’esta distincção essencial: «Sabe-se que os povos indo-europeus não possuem e nunca possuiram religião propriamente sideral. Os deuses da nossa raça são a personificação mais ou menos distincta e mais ou menos antiga dos grandes phenomenos naturaes. Nascidos provavelmente em um paiz de montanhas, sob os climas violentos da Alta Asia central, a religião indo-europêa tem em cada um dos seus mythos o vestigio da alegria ou do medo que lançavam na alma ainda quasi que unicamente sensivel dos homens d’outr’ora as convulsões terriveis, mas muitas vezes beneficas, que elles tinham de soffrer sem recursos de defeza.» É por isso que os principaes mythos se baseam sobre os phenomenos da successão do Verão e do Inverno, o grande drama mythico de todos os povos indo-europeus, conservado ainda nos costumes e festas civis de toda a Europa; o Vento e as Nuvens, o Relampago, o Sol repellindo as sombras da Noite, a Aurora