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— Comadre, vamos comer o carneiro?

— Hoje não posso, tenho de ir ser madrinha de um cachorrinho.

O lobo fiou-se, mas a raposa foi ao lugar onde estava enterrado o carneiro e comeu um grande pedaço. No outro dia torna o lobo a perguntar-lhe:

— Que nome puzeste ao teu afilhado?

— Comecei-te.

Responde o lobo:

— Que nome! vamos comer ambos o carneiro?

— Ai compadre (diz-lhe a raposa), hoje tambem não pode ser; estou convidada para ir ser madrinha.

O lobo fiou-se; a raposa tornou a ir comer sósinha. Ao outro dia vem o lobo:

— Que nome déste ao teu afilhado?

— Meêi-te.

— Que nome! (replica o lobo) Vamos comer o carneiro?

A raposa tornou a escusar-se com outro baptisado, e foi acabar de comer o carneiro. O lobo vem:

— Como se chama o teu afilhado?

— Acabei-te.

— Vamos comer o carneiro?

Foram e chegaram ao sitio; assim que viram o rabo, disse a raposa:

— Pucha, com força, compadre.

O lobo puchou, e caiu de pernas para o ár; a raposa safou-se.

(Airão.)



247. A RAPOSA NO GALLINHEIRO

De uma vez uma raposa apanhou um buraquinho n’um gallinheiro, entrou para dentro fazendo-se muito esguia, e depois que se viu lá, comeu gallinhas á farta.