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No Romanceiro do Archipelago da Madeira do Dr. Alvaro Rodrigues de Azevedo, sob o titulo A gata borralheira, vem este conto em verso de redondilha, de p. 364 a 391. Acha-se no Pentamerone de Basile, Gatta Cenerentola; nas Recreations de Bonaventure des Periers; no conto do Pérrault, Peau d'Ane; em Rollenhagen, Fresch Maüsler (ap. Grimm); em Brueyre, Contes populaires de la Grande Bretagne, p. 37, e notas eruditas a p. 46. Em Gubernatis, Mythologie zoologique, t. V, p. 110 ha mais paradigmas. No Asinarius, vel Diadema, de Gotfried de Tirlemont, acha-se este thema popular. Consiglieri Pedroso allude a uma variante por elle colligida sob o nome A Menina e o Peixe, de que apresenta o resumo: «Um dia um homem trouxe para casa um peixe que apanhou, e deu-o á mais nova das filhas, que era quem tratava da cosinha, para ella o arranjar. A menina em vez de o matar deitou-o n'um poço, e o peixe reconhecido, quando d'ahi a algum tempo ella tem de ficar em casa, em quanto as irmãs mais velhas vão a uma festa no palacio do rei, dá-lhe tudo quanto ella precisa, para se apresentar no baile, conseguindo a menina pela riqueza do seu trage attrahir a attenção de toda a côrte, vindo por fim a casar com o peixe, que era um principe encantado.» (O Positivismo, t. II, p. 446.)

A Gata borralheira fórma um vasto cyclo novellesco, estudado pelo eruditissimo Reinhold Köhler, nas notas a uma versão escosseza, na Revue celtique, t. III, p. 370, e 371. Na Biblioteca de las traditiones populares españolas, t. I, p. 114, vem uma versão do Chili com o titulo de Maria la Cenicienta, curiosa pelo syncretismo com outros contos. O episodio das tripas repete-se tambem na tradição portugueza:

Fadas, fadinhas,
Vistes por aqui as minhas tripinhas?