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Esta facecia tem raizes tradicionaes muito profundas; Schmidt determina-lhe um paradigma nas Gesta Romanorum, cap. 111, no qual se vêem ainda os elementos mythicos de Io mudada em vacca, e Argus, o pastor, fazendo um discurso ao seu barrete espetado na aguilhada, da mesma fórma que Travaillin faz em um conto semilhante das Piaccecole Notte de Straparole, Noite III, Fabula V. (Les Facetieuses nuits, t. I, p. 223. Ed. Janet.) Na versão franceza das Gesta, Le Violier des Histoires romaines, cap. XCVIII, p. 265, não traz a seducção amorosa. N'esta edição indicam-se novas fontes; acha-se tambem nos Contos turcos, que Loiseleur des Longchamps juntou á sua edição das Mil e uma Noites, p. 315. Vide a Histoire du grand ecuyer Saddyk. Nos Quarenta Vizires, vem este conto com o titulo Scheikk Chehabeddin, d'onde passou para outras collecções europêas. O Dr. Schmidt, nas notas á sua versão de Straparola, cita este mesmo conto em allemão do seculo XVI, que se acha nos Volkssagen, d'Otmar (Nachtigall) Breme, 1800. O Abbade Blanchet, nos Contes et Apologues orientaux, tral-o tambem sob o titulo de Doyen de Badajoz. (Vide Loiseleur des Longchamps, Essai sur les Fables indiennes, p. 173.) No conto VIII dos Contos sicilianos de Laura Gonzenbach, é uma cabra que serve para pôr á prova a fidelidade do aldeão. (Vide Gubernatis, Myth. zoologique, t. I, p. 442, nota.) Nos Contos de Pomigliano, colligidos por Vittorio Imbriani, acha-se esta anedocta em que o heroe se chama José Verdade. (Rev. des Deux Mondes, Nov. 1877, p. 145.)


59. O camareiro do rei. — Este conto tem uma referencia historica, sendo os personagens Frederico II e Pedro de Vigues. Esta anedocta teve larga vulgarisação, porque acha-se não só nas Dames galantes de Brantome, como no Livro de Sendabar, no Mischlé sendabar, no Syntipas grego, e nos Sete Vizirs, com o titulo Rasto de Leão. Nas tradições populares italianas tambem está vi-