DA NOVELLISTICA POPULAR
XLIII

trar concepções, taes como aquella que exprime a palavra sanskrita que significa a noite, rajanimukha, isto é, a bocca da noite. Tambem os Scandinavos fallam de Hell, a deusa da morte, que abre a garganta como faz seu irmão Fenrir, o lobo devorante da lua; e uma velha poesia allemã representa-nos o abysmo de Hell, que bocejando se abre do céo á terra.»[1] Temos ainda uma outra locução, o olho do sol, para significar a acção intensa do seu calor ou luz; Tylor acha esta metaphora solar em povos selvagens, Mata-ari (o olho do dia) em Sumatra e Java, e Maso-Andro, com o mesmo sentido em Madagascar; na Nova-Zelandia o mytho torna-se completo, sendo o sol o olho de Mani, e entre os Arias é Chakshuh Mitrasya, o olho de Mitra, ou o olho de Jupiter, como lhe chamavam os antigos romanos, como o refere Macrobio.[2] Se a linguagem vulgar conserva esta impressão indelevel dos mythos primitivos mais caracteristicos dos povos indo-europeus, com mais rasão devem elles persistir nas narrativas dramaticas ou novellescas em que esses mythos se desdobraram.

Os phenomenos sideraes e atmosphericos foram personificados, identificados com a figura e habitos moraes do homem; é este um dos caracteres mais fundarnentaes do polytheismo: Nos Contos populares que pertencerem ás raças que se elevaram ao polytheismo, devem persistir estas concepções mythicas, muitas vezes já não comprehendidas por causa da substituição de um mais adiantado estado mental. Os contos de Psyche, de Crescencia, de Genoveva, da Imperatriz Porcina, de Merhuma, (do Tuti-Namé, I, 7), de Cendrillon, derivam dos mythos da Aurora perseguida ou libertadora, tal como apparece nos hymnos dos Vedas.[3] O Sol seguindo a Aurora, personi-

  1. Idem, ibidem, p. 397.
  2. Ibidem, p. 401.
  3. Gubernatis, Myth. zoologique, t. I, p. 131.