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No livrinho dos Contos nacionaes para crianças, p. 47, n.º XVII, vem uma outra redacção sob o titulo de O Doutor Grillo, formando um cyclo de aventuras. Diz Gubernatis: «Na Italia, quando se propõe um enigma para ser adivinhado, ajunta-se ordinariamente como conclusão as palavras — Indovinala, grillo! (adivinha grillo!) Esta expressão liga-se ao idiota fingido dos Contos populares, que acaba sempre por dar prova de tino. O sol envolvido na nuvem e na obscuridade da noite, é em geral o idiota mas o idiota que vê tudo, etc.» (Myth. zoolog., t. II, p. 50.)


75. Pedro de Malas Artes. — Na collecção dos Contos sicilianos de Pittré ha este mesmo thema. (Rev. des Deux Mondes, 1875 (Agosto, 15), p. 883. Consiglieri Pedroso encontrou-o com o titulo de Manel tolo, correspondente ao Giufa dos contos sicilianos (Fiabe, vol. III, p. 353 da collecção de Pittré), e ás Molbohistorie da Dinamarca. (Ap. Romania, t. IX, p. 138 a 140.) O Positivismo, t. II, p. 450. — Nos Relogios fallantes, D. Francisco Manuel de Mello, allude a esta tradição corrente em Portugal no seculo XVII: «que me puderam levantar estatuas como a Pedro de Malas Artes…» (Apologos Dialogaes, p. 23.) N'esta mesma obra vem o conto da mulher que nas dôres do parto mandou accender uma vela benta, tendo em seguida o cuidado de a mandar apagar para outra vez. (Ibid., p. 196.)

Crêmos que é a esta mesma tradição que se refere o typo de Pedro de Urde-Lamas, citado na Lozana andalusa, da litteratura hespanhola do seculo XVI. No Cancioneiro da Vaticana vem uma allusão a este typo: «Chegou Payo de maas Artes.» (Canç. 1132.)


76. D. Helena. — A peripecia d'este conto, o signal no peito da rainha, acha-se na Cymbelina de Shakespeare, em um conto de Boccacio, e no poema da Edade media Gerart de Nevers.