XLIV
INTRODUCÇÃO

fica-se no mytho de Eros, no esposo de Melusina, de Helias, do Cavalleiro do Cysne, e no esposo de Eurydice.[1] Já vimos atraz como se personificava a Noite, no lobo que devora, na velha que esconde a donzella, ou a transforma e se torna negra, como no conto das Trez Cidras do Amor. O vento acha-se mythificado nas botas de sete leguas, commum a todos os povos áricos;[2] a nuvem, é a toalha que se estende e dá sempre que comer com abundancia, a qual nos Vedas é tambem representada pela vacca, que ainda apparece nos contos populares.[3] Muitas vezes, os contos derivam de uma mythificação espontanea, como se vê pelas locuções populares, outras vezes são o effeito de uma decadencia de mythos systematisados; assim a sala prohibida do conto do Barbe-Bleu é considerada como uma obliteração do thesouro de Ixion;[4] o roubo dos bois pelo Petit-Poucet aproxima-o do mytho de Hermes; a guarda do boi Cardil ou boi Bragado é o mytho de Mercurio e Argus.[5] Poderiamos ampliar as referencias a systemas mythicos da antiguidade que ainda subsistem nos contos populares, mas basta-nos deduzir da lei da sua formação o limite preciso dos themas novellescos. Gaston Paris é de opinião que os themas tradicionaes se fixam em um determinado numero de typos; é o que se deduz dos dois systemas polytheistas, o antropomorphico e antropopathico. Indicaremos esses typos fundamentaes, aproximando-os das personificações dos Contos:

O SOL é o principe encantado, o heroe que salva, o amante que perde a fórma horrenda, é o doente que morre prematuramente e que renasce, é o cavalleiro que mata o dragão, é o thesouro.

  1. Brucyre, Contes populaires de la Grande Bretagne, p. 184.
  2. Brueyre, ibidem, p. 28.
  3. Ibidem, p. 139.
  4. Ibidem, p. 125.
  5. Violier des histoires romaines, p. 205.