A menina chorou muito, e ainda mais quando conheceu o estado em que se achava. Lembrou-se então do segundo dom, e disse:

— Valha-me aqui o velho Querecas.

— Aqui estou já, e bem sei porque me chamas. Ha só um modo de remediar o mal que a ti mesma fizeste. Toma lá estes tres novellos, e vae andando sempre, sempre até onde elles se acabarem; onde quer que seja pede que te dêm ahi pousada do ár da noite.

A rapariga chorou por ter de deixar as irmãs, mas o que ella queria era quebrar o encantamento d’aquelle moço; foi andando, andando até ir dar ao fim de muito tempo a um palacio cercado de um rico jardim. Espreitou pelo buraco da chave, e viu lá dentro uma sala com muitas mulheres trabalhando em lindos vestidos de noivado, e fazendo as roupinhas de uma criança. Teve receio de bater áquella porta, e foi rodeando o palacio, até que encontrou o hortelão, a quem pediu pousada. O hortelão respondeu-lhe:

— Você sabe em casa de quem está para vir assim pedir pousada?

— O que sei é que já me não tenho de cançada; e é por uma esmola.

O hortelão teve dó da rapariga e deu-lhe um canto no palheiro; ella deitou-se mais morta que viva, e ali mesmo deu um menino á luz. Tudo aquillo se transformou n’um quarto muito aceiado e rico. Quando o hortelão veiu ao outro dia, ficou pasmado com o que viu. Foi dar logo parte á rainha, que tambem quiz certificar-se da maravilha.

Quando chegou ao lugar em que estava a menina deu um grito ao vêr a criança:

— Oh senhora! Quem é o pae d’este menino?

A rapariga ficou muito envergonhada por não poder logo dizel-o; no meio da sua confusão contou o caso do velho Querecas. Foi então que a rainha se lembrou: