— Esse menino é o retrato de meu filho, que me desappareceu, sem nunca mais saber d’elle nova má nem boa.

A rainha levou a rapariga para o palacio, tratou de lavar a criança, e quando a despiu achou-lhe nas costas um grande signal. Reparou, e viu que era um pequeno cadeado com uma chavinha. Quiz vêr se o abria, mas com receio disse á mãe que experimentasse a vêr se dava volta áquella chavinha. Logo que a mãe pegou na chave abriu o cadeado, e immediatamente se quebrou o encantamento do principe que deveu a sua liberdade ao animo d’aquella rapariga com quem casou logo.

(Algarve.)



3. O SURRÃO

Era uma vez uma pobre viuva, que tinha só uma filha que nunca sahia da sua beira; outras raparigas da visinhança foram-lhe pedir, que na vespera de S. João deixasse ir a sua filha com ellas para se banharem no rio. A rapariga foi com o rancho; antes de se metterem no banho, disse-lhe uma amiga:

— Tira os teus brincos e põe-os em cima d’uma pedra, porque te podem cair na agua.

Assim fez; quando estavam a brincar na agua passou um velho, e vendo os brincos em cima de uma pedra, pegou n’elles e deitou-os para dentro do surrão.

A rapariga ficou muito afflicta quando viu aquillo, e correu atraz do velho que já ia longe. O velho disse-lhe que entregava os brincos, com tanto que ella os fosse buscar dentro ao surrão. A rapariga foi procurar os brincos, e o velho fechou o surrão, com ella dentro, botou-o ás costas e foi-se de vez. Quando as outras moças appareceram sem a sua companheira, a pobre viuva lamentou-se sem esperança de tornar a achar a filha. O ve-