impossivel. Ali ficou junto d’ella, e todas as vezes que podia, fingia que ia para a caça, mas não fazia senão vir sentar-se para o pé da menina que elle já amava com loucura. Só o criado que o acompanhava é que sabia do segredo. O principe vinha á côrte de fugida só quando era preciso, e tornava para a tapada, onde guardava a menina adormecida, que ainda assim veiu a ter trez filhos.

As crianças foram crescendo, e cada vez se tornavam mais encantadoras; mas o principe tinha uma grande pena da mãe estar n’aquelle estado. Um dia andando um dos pequeninos a brincar em cima da cama, começou a pegar nas unhas da mãe, e por acaso, sem saber como, fez-lhe saltar da unha a púa que causára aquella doença. O principe, que estava ali, ficou maravilhado por vel-a mecher-se logo e começar a fallar e a beijar os filhos, como se tivesse voltado á vida. O principe contou-lhe tudo como se tinha passado até ali, e disse-lhe que os seus tres filhos se chamavam Cravo, Rosa e Jasmim. A rainha já andava desconfiada d’aquellas ausencias do filho, e tratava de vêr se descobria alguma cousa.

Uma occasião o principe teve de ir a uma grande feira, e perguntou á sua namorada se queria que lhe trouxesse de lá alguma cousa; depois de muitas instancias sempre disse:

— Pois traze-me de lá uma saia de esquilhas.

Não havia lá isso, mas o principe mandou-a fazer de proposito; era uma saia cheia de guisos, que tintelintavam. A menina ficou muito contente com a lembrança. Mas a rainha que maquinava a sua vingança, e que pelo pagem que acompanhava o filho já sabia tudo, fez com que o príncipe se demorasse muitos dias na côrte. O filho com medo do genio ruim da rainha não dizia nada, mas andava cheio de saudades; foi de uma vez que ella lhe ouviu um suspiro: