Tiraram-lhe o freio, e assim que elle disse: — Ai de mim, passaro! — vôa logo pela janella fóra. Encontrou o Mestre das Artes no caminho, que o conheceu e disse: — Ai de mim milhafre! — que era para matar o passaro.

Ficou elle muito alcançado de vêr o milhafre atraz de si, e disse:

— Ai de mim annel! — E caiu nas ondas do mar, e uma garoupa enguliu-o. A garoupa foi ter a outro paiz; um pescador pescou-a e foi vendel-a a palacio. A princeza foi vêr concertar o peixe; viu no buxo um annel. A criada lavou o annel e deu-o á princeza; ella estimava o annel mais que todas as outras joias que tinha. A princeza ao deitar-se tirava o annel e punha-o sobre uma banca. O annel de noite, tornava-se em homem, e punha-se a conversar com a princeza, que cheia de medo chamava o rei seu pae. N’este ponto o homem tornava-se formiga, e o rei vinha e não via nada. Succedeu isto tres noites; na ultima elle disse á princeza:

— Eu sou a prenda que trazeis no dedo; tenho de dizer a sua alteza, que o rei seu pae está muito doente; os medicos não lhe dão cura. Só o Mestre das Artes de Paris é que lhe dará cura; mas elle não hade querer dinheiro, nem prenda, nem joia nenhuma. Só hade pedir ao rei o annel que traz a princeza; não lh’o dê vossa alteza na mão, mas deixe-o cair ao chão.

Ella fez como o rapaz lhe tinha pedido. Soube-se da doença do rei, até que foi chamado o Mestre das Artes, que teimava em querer o annel. A princeza zangada da teima, atirou com o annel ao chão. O annel disse: — Ai de mim, painço!

E derramou-se em painço pelo chão. O Mestre das Artes tornou-se em gallinha para apanhal-o, e o rapaz tornou-se em comadrinha (doninha), pegou ás dentadas na gallinha e matou-a.

Mal acabou, tornou-se em homem e explicou tudo ao