14. A SARDINHINHA

Uma mulher tinha trez filhas; foi com duas para o trabalho, e ficou em casa a mais nova para tratar da comida. Comprou dez reis de sardinhas, e foi assal-as na grêlha. Quando estavam nas brazas, saltou uma das sardinhas para o chão; a rapariga pegou n’ella e tornou a pol-a na grêlha. D’ahi a pouco tornou a dar um salto, e tambem um gemido. A rapariga meio assustada foi levantar a sardinha do chão, e ella disse-lhe:

— Não me mates! Pega em mim e leva-me á borda do mar, e segue pelo caminho que se te deparar.

A rapariga foi, e assim que deitou a sardinhinha ao mar, formou-se logo uma estrada muito larga; ella seguiu por esse caminho a dentro e foi dar a um grande palacio, onde estavam muitas mezas póstas. Ella correu todas as salas, viu muitas joias, muitas riquezas, mas o mar tinha-se tornado a fechar, e já não pôde tornar para traz. Deixou-se ficar ali, e dormiu em uma cama muito rica e muito fôfa que achou. Para se entreter despia-se e vestia-se com vestidos riquissimos que lá se guardavam.

Todos os dias lhe apparecia um homem em figura de preto, que lhe perguntava se ella estava contente.

— Eu contente? o que me faz pena é lembrar-me que minha mãe e minhas irmãs estão trabalhando todo o dia para poderem comer qualquer cousa, e eu aqui.

— Pois bem, disse-lhe o preto, leva o dinheiro que quizeres, vae vêr tua mãe e tuas irmãs, mas não te demores lá mais do que tres dias.

E tornou-se a abrir a estrada no mar. A rapariga chegou a casa, contou tudo, a mãe ficou muito contente com o dinheiro, e as irmãs fizeram-lhe mil perguntas do que havia no palacio, e se não tinha medo de ficar de noite sosinha? Ella disse que tinha o somno muito pesado. As irmãs disseram: