noites de luar, que ao bater da meia-noite via-se vagar pelas ruas a alma do pernambucano, a purgar culpas passadas. As crianças fugiam á presença do velho, e os matutos benziam-se quando o viam passar curvado sob o peso da meditação constante, ou de algum desgosto indefinido, arrimado no seu bastão de massaranduba, com o craneo, a meio despido, exposto aos raios do sol.

Todos se calavam quando elle apparecia. As mães de familia faziam aos filhinhos a escusada recommendação de fugir ás vizinhanças da casa maldita, em que morava o mulato; ou acalentavam as criancinhas, com umas cantigas ingenuas, em que o velho do outro mundo era comparado ao murucututú de cima dos telhados, o terrivel espantalho dos pequenos mal dormidos.

Todos lhe tinham medo, e talvez por isso attrahia-me para elle uma sympathia irresistivel. Desde a mais tenra infancia, vivi sempre em contradição de sentimentos e de idéas com os que me cercavam: gostava do que os outros não queriam, e tal era a predisposição malsan do meu espirito