para apalpar as barras d'ouro que lá esperava encontrar! Mas, oh! desgraça! só retirou carvões negros. Nas algibeiras, a mesma coisa.
Quando voltou a si d'essa cruel decepção, disse para comsigo : « Emfim, foi apenas um bello sonho; mas ao menos ainda me resta o ouro da vespeira. »
Foi ao armario onde o tinha fechado; o bello e brilhante metal transformára-se em carvão, cheio de pó. Caiu no chão, o coração despedaçado por uma dôr aguda; levou a mão á cabeça para arrancar os cabellos : não os encontrou, estava calvo.
Chorou de raiva; mais não chegára ainda ao fim das suas penas; para compensar a corcunda que tinha nas costas, viéra-lhe outra á frente.
Então reconheceu que tudo isso era o justo castigo da sua cubiça, e chorou amargamente. O bom alfaiate, que despertára n'esse comenos, consolou-o melhor que poude e disse-lhe :
« Tudo não está perdido para ti; és pobre, mas és meu amigo e vou dar-te a metade do meu ouro; com o que me resta, ainda sou mais rico do que nunca esperei sêr. »
O bom alfaiate cumprio a sua palavra; o ourives poude estabelecer-se e chegou a ter um bem-estar honesto, mas como castigo da excessiva cubiça, teve toda a vida de aguentar com a segunda marreca e usar sempre um barrete para esconder a careca.