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CONTOS E PHANTASIAS
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Tres annos de silencio! Como é que tu has de perdoar-me, Thereza!

Mas se eu te disser uma cousa, só uma cousa, perdôas-me de certo.

Sou muito infeliz.

Quiz talvez realizar o impossivel, quiz achar no amor de meu marido o conjuncto de todos os amores de que eu me sentia capaz.

Fiz tudo para conservar a felicidade, e a felicidade fugiu-me.

Elle vê em mim um pezo, uma prisão, talvez que um grande desapontamento.

Nunca me queixo. Para que?

A gente não deve queixar se, porque é uma humilhação escusada e inutil.

Procuro convencer-me de que na vida de todas as mulheres ha d’estes cilicios occultos que ellas supportam ageitando nos labios um sorriso heroico.

Não renego nenhuma das minhas ideias. O dever consola, o dever compensa.

Não comprehendo que, porque um faltou ao contrato ideal que fez com a consciencia, o outro deva faltar tambem.

Emquanto elle me quizer junto de si, hei de dar-lhe toda a minha vida, feliz d’este sacrificio sem paga.