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CONTOS E PHANTASIAS

baixo a Cigana, acariciando-os com os olhos onde havia o indefinido das vagas, e como que um lampejo humedecido de uma ternura doce e humana.

A filha de Navarro, depois de haver chorado no seio do pae, abaixou-se e passou a mão pela cabeça da cadella.

— Quando partir de novo, papá, deixe-me a Cigana, sim? A mamã era tão amiga d’ella!

A Cigana, parecendo comprehender aquellas palavras, endireitou-se, e pousando as patas no collo da menina, beijou-lhe carinhosamente as mãos...

Quando Navarro chegava do Brazil e ia passar algum tempo a Lessa com a familia, levava sempre em sua companhia o seu querido animal! Imagine-se como este seria amimado, festejado e cheio de affagos quando souberam que uma vez no alto mar...

Não sei quantas milhas devorava n’esse momento a galera.

Era meio-dia, fazia um sol de rachar, os marinheiros á prôa comiam o rancho, e na tolda não estava senão o capitão, a Cigana, e o homem do leme.