— Boa pergunta! Não subisse eu tão depressa para o muro e estava asseiado a estas horas! O demonio do bicho! Mas vinha prevenido, atirei-lhe uma bola, que lhe soube como se fosse manteiga. Ora deixe lá o cão, querida, não se faça piégas...
Luiza interrompeu bruscamente aquellas palavras tolissimas, e endireitando o corpo, ergueu a voz quebrada pelas lagrimas:
— Saia, saia depressa; se não quer que meu pae o venha aqui matar sem ser tão cobardemente como o senhor acaba de matar a minha pobre Cigana.
E emquanto o vulto marinhava pelo muro, a desditosa creatura abraçava a Cigana, e chorava como sómente uma vez em vida chorára, quando lhe levaram para fóra de casa o corpo de sua mãe.
— Cigana, minha pobre Cigana! repetia Luiza, fui eu que te matei!
Ao outro dia murmurava o capitão, fingindo-se sereno e forte para poder consolar a filha:
— Vão lá depois fazer bem... Eu mandava prender a Cigana para que não fizesse mal a ninguem, e pagaram-me d’esta fórma!...
E o velho, para não chorar tambem, fingia que não reparava nas lagrimas que rolavam como perolas pelo rosto descolorido e pallido da filha.